O presidente da Facisc, a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina, Sérgio Rodrigues Alves, terminou 2021 com a sensação de dever cumprido, apesar de todos os problemas enfrentados por conta da pandemia. À frente da entidade que reúne 149 associações e está presente em 222 dos 295 municípios do estado, ele comemora os 50 anos da instituição com ações cada vez mais voltadas aos associados.
Num momento de crise, Rodrigues Alves entende que é nesta hora que todos precisam se unir para enfrentar os desafios. E desafios é o que não faltará em 2022, um ano marcado por eleições. A Facisc tem como norte um programa chamado Voz Única, que reúne demandas de todas as regiões do estado e é entregue aos candidatos sempre antes dos pleitos. O governador Carlos Moisés recebeu o documento antes de assumir e, no entender de Sérgio Rodrigues Alves, muito do que vem realizando à frente de Santa Catarina está contido no Voz Única.
Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, ele destaca essa questão e critica fortemente o governo federal pelo que considera demérito com o estado ao cortar recursos do orçamento para estradas. Confira:
Qual o balanço que o senhor faz das ações da Facisc em 2021, ano que marcou o cinquentário da Federação?
O ano de 2021 foi muito desafiador, não só para a Facisc, como também para toda a sociedade. Nós começamos de forma insegura, não sabíamos, de fato, o que aconteceria no dia seguinte. Tivemos que superar inúmeros desafios, participamos de diversas campanhas naquele primeiro momento para se evitar um lockdown que pudesse afetar a economia. Participamos também de campanhas para se poder comprar vacinas, numa parceria com a Fecam. Além de outras ações para que se pudesse fortalecer o setor de saúde. Isso faz parte do associativismo. Então foi um começo de ano difícil, tivemos que nos reinventar em várias atividades. Felizmente o segundo semestre mostrou uma expectativa de um novo normal. Voltamos a ter a possibilidade de fazer reuniões presenciais e nos libertamos um pouco mais em relação a algumas atividades associativas. Mas eu acho que o grande ensinamento que tivemos em 2021 foi que nós temos que estarmos próximos e solidários em todas as situações. E estamos projetando 2022 muito esperançosos. Os desafios são grandes, temos que recuperar algumas coisas perdidas – naturalmente não as perdas maiores que foram as vidas, mas em termos econômicos, em termos associativos. Outra lição que ficou é de que temos que promover cada vez mais essa integração, essa união entre os associados. Nós estamos sentindo a necessidade de promovermos cada vez mais essa união. Temos visto que quando a gente faz alguma coisa em conjunto, de forma associativa, todos se sentem mais seguros. Esse é o espírito associativo. Acho que 2022 tende a ser um ano desafiador e consolidador daquilo que a gente promoveu em 2021.
A Facisc atuou muito na área de inovação em 2021. Quais ações o senhor destacaria?
Nós preparamos o nosso plano de gestão baseado em cinco pilares: 1 – Inovação; 2 – Integração entre os associados; 3 – Capacitação, que é um programa muito forte, em todos os sentidos para os associados e às associações; 4 – Soluções empresariais e 5 – Representatividade. Na parte de inovação, não só na área tecnológica, mas também na inovação de tarefas, de procedimentos. Para citar um exemplo: um software que estamos implantando dentro do programa Empreender. Temos os núcleos setoriais – mulher empresária, imobiliários, mecânicos, lojistas, enfim – e esse software dará a oportunidade de criarmos um portal de negócios. Cada associado tem o seu produto e neste portal teremos a oportunidade de gerar negócios, um marketplace. Além disso, estamos criando um brechó dos associados, onde poderá fazer doações que possam atender outro associado. Então se uma determinada empresa vai fazer uma reforma interna e ficará com algum mobiliário sem utilidade, ela poderá doar ao brechó, que poderá atender outra empresa. Mas tudo funcionará como doação. Isso também é inovação.
Quais as ações da Facisc dentro do programa de capacitação?
Nós temos um grande problema em Santa Catarina em relação à mão de obra. Hoje eu percorro todas as regiões e em todas elas eu vejo a necessidade de capacitarmos melhor essa mão de obra. Falta treinamento, faltam mais institutos técnicos de formação. Nem falo em universidades, falo que institutos técnicos que formem melhor a mão de obra em nosso estado. Um treinamento básico de três meses, seis meses e até um ano. Nós temos regiões fortes no agronegócio, então precisamos de um treinamento específico para este setor. Por isso, estamos estudando criar a nossa faculdade de negócios, em parceria com associação empresarial de São Paulo. A ideia é criarmos cursos técnicos específicos para cada região de SC, de acordo com a demanda das regiões. Hoje temos dificuldades de eletricista, de torneiro, gesseiro, enfim. Por que a região norte de SC é conhecida como centro metal-mecânico? Graças a Escola Técnica Tupy, que desenvolveu essa mão de obra qualificada. E isso disseminou em toda a região.
“No pronunciamento do Plano 1000, o governador Carlos Moisés citou a importância do trabalho do Voz Única.”
O senhor citou antes o Voz Única, um documento de demandas que baliza a ideia de gestão pública da Facisc. Esse documento foi entregue a todos os eleitos em cargos públicos. O senhor acha que eles leram o Voz Única?
Acho que leram sim. Tenho certeza de que o governador Carlos Moisés leu o Voz Única. Tanto leu que adota nas suas destinações de governo. No pronunciamento do Plano 1000 ele citou a importância do trabalho do Voz Única e nós estamos fazendo um trabalho com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, com o secretário Luciano Buligon. O governador já sinalizou a importância e já tivemos reuniões a respeito disso, de implantarmos a metodologia que temos hoje em parceria com a Alemanha, que é em cima do DEL (Desenvolvimento Econômico Local). Essa metodologia prevê ser aplicada em municípios mais carentes, que têm potencial turístico e gastronômico. Santa Catarina é um estado fantástico, com uma diversidade incrível. Na região da Grande Florianópolis, por exemplo, temos um litoral exuberante e a menos de 40 quilômetros nós temos águas termais.
O senhor avalia como positiva a gestão de Carlos Moisés?
Eu avalio como positiva. Acho que o governador tem sido muito atuante e está muito presente em várias demandas do estado. E o Plano 1000 vem bem ao encontro disso. Ou seja, disponibilizar recursos dentro de um processo produtivo, dentro de uma metodologia. Não é dar o peixe, é ensinar a pescar. Isso tudo está dentro do Voz Única.
“O remanejamento dos recursos do nosso orçamento para estradas não deixou de ser uma pedalada do governo federal.”
Mas o ambiente político também apresentou ações que desagradaram a Facisc, como o corte de R$ 40 milhões das verbas destinadas às rodovias. O que o senhor faz deste movimento?
Nós nos insurgimos contra, de uma forma muito consciente. Porque tudo aquilo que afete o desenvolvimento da sociedade catarinense, que não venha ao encontro do crescimento, nós vamos sempre nos insurgir contra. Somos uma entidade representativa e temos que fazer o que a nossa base nos pede. E desde o início se sentiu indignada com esse corte no Orçamento. E nós fizemos uma Nota de Repúdio. Eu sei que o Ministro Tarcísio Gomes de Freitas não gostou, mas não importa se ele tenha gostado. A verdade é que Santa Catarina mais uma vez ficou prejudicada.
O ministro apresentou uma explicação técnica, mesmo assim a Facisc se posicionou contra?
Não é porque se faz esse remanejamento orçamentário, de natureza técnica – que eu sei que é possível, já trabalhei com orçamento público – que não deixa de ser uma pedalada. Porque quando se faz esse tipo de remanejamento, tem que se ter a previsibilidade de como vai haver a devolução desses recursos. Em momento algum eu vi essa previsibilidade. Por isso que eu questiono muito o que foi feito, porque acho que é demérito com Santa Catarina. Somos o quinto estado que mais arrecada impostos no país e o 25º que recebe recursos do governo federal. É um descaso e um desrespeito com a sociedade catarinense. E vamos nos insurgir sempre contra aquilo que não venha a contribuir com a nossa economia ou com a nossa sociedade. Retirar R$ 40 milhões do nosso orçamento, vendo diariamente acidentes, perdas de vida, precariedade das nossas estradas é um desrespeito conosco. E não venha com essa história de achar que Santa Catarina é autossuficiente porque não somos. Ao contrário, somos carentes nessa área de infraestrutura e basta ver o estado das nossas estradas. A nossa produção para chegar aos portos enfrenta problemas muito sérios. Um custo enorme porque nossas estradas estão se deteriorando a cada dia. Precisamos de investimentos e de recursos.