O deputado estadual Fernando Krelling (MDB) é um homem do esporte. Formado em Educação física e pós-graduado em Gestão Pública, esse joinvilense de Pirabeiraba, 38 anos, começou a vida profissional como garçom, trabalhou em banco e aos 23 anos, recémformado, abriu sua primeira academia, no bairro Itaum, na zona Sul da cidade.Em 2013, recebeu convite para comandar a Secretaria de Esportes. Durante a gestão, criou o programa Mexase, responsável por levar a atividade física para 2,5 mil idosos de diversos bairros. Também ampliou o Programa de Iniciação Desportiva (PID) para crianças e adolescentes. Em 2016, com 10.523 votos, Krelling se elegeu o vereador. Nas eleições de 2018, foi candidato a deputado estadual e recebeu 44.356 votos. Com essa experiência, Krelling defende uma revisão na condução dos regramentos sociais de enfrentamento à pandemia e pede mais atenção aos esporte. Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, ele reforça este apelo, analisa a condução do governo e abre seu voto para o pleito estadual de 2022.
[Pelo Estado] – Uma das principais bandeiras do seu mandato é a questão do regramento das atividades esportivas durante a pandemia. Foi publicado um decreto recentemente. O senhor ficou satisfeito?
Fernando Krelling – A gente defende muito a prevenção em saúde, é meu foco desde o início do meu mandato. E quanto veio a pandemia eu fiz uma defesa incondicional da prevenção, ao aumento da imunidade, às respostas mais rápidas contra infecções, fazer com que as pessoas sejam pró-ativas no sentido de buscar a saúde e não esperar a doença chegar para correr atrás da saúde novamente. Os decretos e portarias publicados no início foram muito confusos; a gente sempre ficava em dúvida. Aí o governo do Estado tentou fazer um plano de contingência e ainda ficou confuso. A gente quer a liberação das práticas coletivas justamente para que se entenda que o esporte coletivo não é só recreação e lazer.
[PE] – Há uma dificuldade de entendimento por parte das autoridades de saúde?
F.K. – As pessoas têm uma visão que se liberar os esportes coletivos é o mesmo que liberar para jogar futebol para depois tomar uma cerveja e fazer uma confraternização entre amigos. Não é isso! Pesquisas apontam que pessoas que praticam atividades físicas moderadas durante 120 a 150 minutos semanais têm 34% a mais de chances de não entrarem num leito de enfermaria, semi-intensivo e menos ainda UTI. Hoje se fala que existem vacinas com eficácia de 52%. Se somarmos mais os 34% da prevenção, teremos pessoas com uma imunidade super elevada. Além disso, temos 65 mil praticantes em complexos esportivos pelo estado semanalmente. Não falo de atletas, apenas praticantes habituais. Desse total, apenas 12% tiveram uma complicação ou pouco mais com a doença, mas nenhum caso de óbito. Ou seja, essas pessoas estavam preparadas para enfrentar o vírus.
[PE] – Então o senhor acha que ainda dá para avançar mais nos decretos?
F.K. – Acho que precisa avançar. Os decretos e portarias precisam ser modificados urgentemente para dar possibilidade para que essas pessoas possam fazer a prática contínua das atividades físicas. Do jeito que está, a clandestinidade vai aumentando; os complexos que têm CNPJ estão sendo prejudicados, mas basta dar uma circulada para ver tem gente jogando em tudo que é lugar. Tem que modificar os decretos e portarias e tem que liberar, lógico, dentro das regras sanitárias.
[PE] – O senhor acha que falta mais análise técnica e científica nos regramentos?
F.K. – Eu tenho uma lei aprovada em Santa Catarina tornando essencial o exercício físico e a atividade física. Foi a primeira lei nesse sentido, depois mais 15 estados também aprovaram leis semelhantes. São mais de 50 municípios no Brasil que também aprovaram essa mesma lei e tem lei tramitando no Congresso usando a nossa lei como referência. E tem um parágrafo dessa lei que diz: para fechamento ou proibição apenas com dados técnicos e científicos. Que é o que o COES não está apresentando. Eles apresentam justificativas como “a partícula, a gotícula que faz com que as pessoas possam contrair o vírus”. Mas num mercado; num ônibus lotado também pode; numa lotérica; numa conversa informal entre amigos também pode, enfim, todo ambiente está propício a ocorrer. O meu entendimento é que tem muita gente no COES que trata a vida inteira de doença, mas nunca tratou de prevenção e promoção em saúde.
[PE] – E de um modo geral, como o parlamentar vê a atuação do governo estadual no enfrentamento à pandemia, num cenário de troca de governadores?
F.K. – Essa questão de ida e volta, saí governador é muito confuso para o estado. Se já é confuso para quem está no governo, imagina para o cidadão que está na ponta precisando de um leito de UTI. Mas é muito fácil para qualquer um culpar alguém por causa da pandemia. Só que enfrentamos uma crise sanitária mundial, o mundo ainda não teve resposta. E qual a resposta neste momento: a prevenção, promoção em saúde e a vacina! Lógico que tem erros enormes, como essa confusão dos respiradores. Isso prejudicou muito.
[PE] – Como o senhor está vendo o ritmo da vacinação?
F.K. – A vacinação é a nossa esperança, gostaríamos que fosse muito mais rápido. O estado fica na dependência do Plano Nacional de Imunização, o PNI, e das remessas que vêm do Ministério da Saúde. O meu apelo é que isso acelere cada vez mais, porque quando chegar a faixa dos 35 a 50 anos, a maior parte da população, tudo ficará mais difícil. Eu também defendo que, tendo vacina no mercado, o setor privado pode entrar. Porque, um empresário com 3 mil funcionários pode comprar para seus colaboradores, já é um grupo importante de uma determinada cidade que já estará imunizado.
[PE] – Mesmo que isto interfira no PNI? Que não respeita os grupos prioritários?
F.K. – Não. Não adianta virar uma guerra de quem chegar primeiro para comprar. Daí quem tem mais dinheiro sai na frente e os preços vão lá em cima. Não é isso. Se tiver vacina suficiente sou totalmente a favor que a iniciativa privada possa comprar. Isso vai diminuir a pressão sobre o poder público. Porque cai tudo na conta do estado. Mas, logicamente, cumprindo o cronograma do PNI. Mas, algumas coisas não concordo com esse plano, acho que algumas pessoas deveriam estar na frente, principalmente professores e segurança pública, que já entrou. Fiz uma moção aqui na Alesc pedindo que SC tivesse um plano estadual de imunização.
[PE] – Para finalizar, como o senhor está vendo o cenário político. Os candidatos ao governo estão praticamente lançados. Como fica seu partido?
F.K. – O MDB tem três candidatos fortes. O presidente estadual e deputado federal Celso Maldaner; o senador Dário Berger, com larga experiência de Executivo como prefeito de São José e Florianópolis, além dos 8 anos de senado; e o prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli. O partido decidiu por prévia, acho que o momento não é para isso. É sempre um risco. Todos os nomes são bons, mas o prefeito Antídio Lunelli é um nome extremamente forte, faz uma gestão exitosa em Jaraguá do Sul. Por fim o que eu torço é para que o partido evite criar alas dentro do próprio MDB.
[PE] – E o senhor será candidato à reeleição?
F.K. – Sim, sou candidato à reeleição de deputado estadual. Existiu uma sondagem para sair à federal mas vamos dar um passo de cada vez e tentar mais um mandato na Alesc.